domingo, 18 de janeiro de 2009

Violência Global

Não me lembro de um início de ano tão deprimente como este, e o pior de tudo é que nada indica que teremos alguma melhora. O Ano Novo começou no ano anterior, com a quebra da Bolsa de Valores dos E.U.A. o que gerou prognóstico nada otimista do desempenho econômico mundial daqui para frente, sucessão de catástrofes naturais devassando cidades e ceifando vidas (o que já vem acontecendo, e de forma cada vez mais frequente). Os efeitos do aquecimento global começa a dar claros sinais de que o homem subestimou as consequências da emissão de poluentes (quer dizer, teremos muito menos tempo para adotar medidas para reverter a situação - se é que conseguiremos...), e mesmo assim há potências que regateiam políticas de contenção dessas emissões, preferindo se omitir ou comprando créditos de carbono de quem economiza a emissão. Ou ainda, sob alegação de manter os empregos e atividade econômica nas mesmas bases do neoliberalismo obsoleto, liberam empréstimos a indústrias automobilísticas cujo produto é a principal fonte do agente do aquecimento global (gás carbônico), não importa se movido à base de petróleo ou biocombustíveis. E para coroar o ano que se findava, em dezembro, Israel se aproveita do vácuo de poder dos E.U.A. à espera da transmissão do cargo presidencial, deflagrando uma carnificina sem tamanho contra civis na Faixa de Gaza...

O pior é que essa onda de violência e políticas imorais ao redor do mundo parece estar acontecendo a metros da nossa casa, devido ao progresso da informação. O que, ao meu ver, acaba muitas vezes "contaminando" a mentalidade de quem recebe as notícias. Num telejornal de grande audiência, mais de 70% do tempo (às vezes até mais... eu cronometrei por uma semana) é ocupado com notícias de violência (guerra, acidentes, homicídios e outros crimes) e ou das iniquidades políticas. E excesso de estímulo costuma dessensibilizar, isso é amplamente conhecido e usado nas terapias do comportamento. Pois, excesso de exposição aos fatos e cenas de violência deve influir no descaso com que pessoas reagem à dor alheia, e facilitar a sua própria reação violenta diante de frustrações desde as graves até as mais banais...

Violência gera violência, e nem precisa ser a própria vítima, basta ser informado. Se até o Prêmio Máximo da Paz é outorgado aos homens que praticaram atos mais violentos e criminosos contra civis inocentes, o que podemos dizer ao homem comum?...

Será que a humanidade jamais aprenderá a respeitar o seu próprio habitat, a sua própria família - humana e seus irmãos da natureza?

Na revista online "Superinteressante" encontrei um antigo artigo (de outubro de 2001) assinado por Denis Russo Burgierman intitulado "Existe Terrorismo Bom?" cujo teor veio de encontro a muitos fragmentos de pensamento que venho tendo nestes dias. Abaixo reproduzo passagens que lembram fatos históricos que não devemos jamais esquecer, e que sintetizam os meus pensamentos. O texto na sua íntegra pode ser lido aqui.

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Existe Terrorismo Bom?

"Violência contra civis é uma tática horrível. Mas será que, no fundo, você não simpatiza com ela?

Rolihlahla criou uma milícia em seu país, apesar da oposição dos companheiros, que condenavam a violência. Ele vestiu-se com trajes militares, escondeu-se com seus homens na mata e distribuiu armas. Seu grupo começou a explodir bombas, sabotar fábricas, atirar em guardas desprevenidos e espalhar o pavor entre a população civil. Rolihlahla incitava a violência contra membros da elite e muita gente acabou sendo assassinada na onda de atentados que se seguiu. Até que prenderam Rolihlahla.

Sujeito horrível esse Rolihlahla, não é? Terrorista da pior espécie, não há dúvida. Por sorte, ele foi condenado à prisão perpétua. Aliás, talvez você já tenha ouvido falar dele. Ele é mais conhecido pelo nome inglês que adotou depois do batismo cristão: Nelson. Nelson Mandela (...)

Em 1993, Mandela pendurou no pescoço a medalha dourada do Prêmio Nobel da Paz. Mas espera aí, um Nobel da Paz para um terrorista? Pode? Claro que pode. Mandela não foi nem o primeiro nem o único terrorista agraciado com o prêmio mais importante do mundo. Também há diplomas da Fundação Nobel nas salas de estar de Menachem Begin e de Yasser Arafat. [nota: ambos hoje falecidos...]

Begin e Arafat têm trajetórias bastante parecidas – ambos dedicaram a juventude à luta pela criação de um Estado para o seu povo. Ambos explodiram bombas, mataram uma porção de civis e espalharam pânico. Ambos conseguiram chamar a atenção da comunidade internacional para suas causas graças à violência e acabaram escolhidos líderes de seus povos depois de abandonarem o terrorismo.

Por fim, ambos foram agraciados com o Nobel da Paz por conseguirem uma trégua no conflito que ajudaram a começar (...)

Begin, Arafat e Mandela não demonstram nenhum arrependimento pelos atos violentos cometidos no passado. Os três garantem que foram forçados a chegar a esses extremos por uma boa causa. Muito bem. Poucas causas são tão "justas" quanto a defesa da natureza. Ninguém que não seja muito inconseqüente ou politicamente incorreto é a favor da extinção de animais, por exemplo. Isso quer dizer que todo tipo de atentado pode ser cometido em nome dessa causa?

A ONG Sea Shepherd, por exemplo, costuma arremessar sua traineira contra baleeiros em alto-mar. Já afundou oito deles e não pretende parar. Sua tática é terrorista – espalha pânico entre os caçadores de baleias para fazê-los desistir da atividade. A Sea Shepherd nunca machucou ninguém durante os ataques, mas Paul Watson, seu fundador, em entrevista à Super, publicada em novembro de 2000, disse com todas as letras que não hesitaria em matar alguém se fosse absolutamente necessário para salvar uma baleia. "A sobrevivência da espécie é anterior aos direitos do indivíduo", afirmou (...)

"Sou totalmente a favor das causas ecológicas", afirma o sociólogo Gabriel Cohn, da Universidade de São Paulo. "Mas seja qual for a causa, ela não será vencida com violência. Se o McDonald’s tem um valor simbólico para os manifestantes ecológicos ou antiglobalização, é justo que alguém faça um protesto simbólico, com faixas ou pixações, por exemplo. No momento em que se fazem ataques reais, ameaçando vidas humanas, os manifestantes se colocam no mesmo nível dos celerados que derrubaram o World Trade Center", diz.

O historiador das religiões Philip Jenkins, da Universidade da Pensilvânia, Estados Unidos, outro estudioso da violência, tem opinião parecida. "Nenhuma causa é boa o suficiente para justificar a morte de inocentes", diz. Jenkins estabelece um limite claro para separar as lutas legítimas do terrorismo condenável. Se civis têm suas vidas ou sua propriedade ameaçada, então o ato foi longe demais (...)

Pelo mesmo critério, também, a atuação dos Estados Unidos durante a Guerra Fria – apoiando o terrorismo de Estado na América Latina, financiando grupos terroristas de oposição em países comunistas como Camboja e Angola, e fortalecendo extremistas que viriam a se tornar terroristas, como o próprio bin Laden, no Afeganistão – é completamente condenável. Tal política foi conduzida pelo secretário de Estado Henry Kissinger (que, dias após o atentado de Nova York, afirmou que "tão culpados quanto os terroristas são aqueles que os apóiam, financiam e inspiram"). "Kissinger é o terrorista-mor", diz Cohn. Pois bem. O terrorista-mor, assim como Mandela, Begin e Arafat, também ganhou seu Nobel da Paz – em 1973, pelo fim da Guerra do Vietnã.

Será que isso quer dizer que, no mundo real, por mais condenável que seja, a violência é muitas vezes o único caminho contra um inimigo mais forte? Com certeza não. A história tem alguns exemplos de pessoas que se recusaram a matar inocentes em nome de uma causa. É o caso de Mahatma Gandhi, herói da independência indiana, que pregava a resistência pacífica aos colonizadores ingleses. (...)

Ao contrário dos terroristas Arafat, Begin, Kissinger e Mandela, Gandhi jamais ganhou o Nobel da Paz."

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E pelo andar da carruagem, muitos terroristas (declarados, ou travestidos de chefes de Estados) ainda serão premiados, e nenhum candidato para suceder Gandhi na luta pacífica pelos direitos humanos e da Natureza.

[nota: negritos são por minha conta]



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Links:

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- Cidadania, Política e Consciência Crítica:
. Congresso em Foco: O dia-a-dia do nosso Congresso Nacional;
. Observatório da Imprensa: Olhar crítico sobre a mídia
. Transparência Brasil: Política e políticos sob lente de aumento;
. Deu no Jornal: Banco de dados da corrupção no Brasil;
. Opinião e Notícias: Um jornalismo alternativo, de orientação liberal;
. Montbläat: Um jornalismo independente na net;
. Alberto Dines: Opinião deste isuperável jornalista em blog;
. Escritos Infames: blog do Teócrito Abritta, ambientalista, fotógrafo e escritor;
. Náufrago da Utopia: blog do jornalista Celso Lungaretti, ex-guerrilheiro dos anos de ditadura e eterno combatente das injustiças sociais;
. Humberto Laudares: blog muito lúcido sobre política e economia;
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. SOS Mata Atlântica: ONG com ações concretas e eficientes para salvar a Mata Atlântica;
. Greenpeace Brasil: ONG bastante atuante na defesa do meio ambiente e animais em perigo de extinção (embora meio fanática e agressiva...);
. Planeta Sustentável: portal de Abril e seus patrocinadores, com artigos e dicas para exercício de cidadania ecologicamente sustável;
. Envolverde: muito bom portal sobre meio ambiente e consciência verde;
. Portal das Energias Renováveis: tudo sobre o mundo da energia;
. Sustentabilidade: ambientalismo focado como negócio.

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. Saúde Animal: bastante útil para começar a entender os nossos animais de estimação e cuidá-los bem (cães, gatos, ferrets, aquarismo, etc);
. ANDA: Agência de Notícias de Direitos Animais - e-jornal em defesa dos animais;
. PEA (Projeto Esperança Animal): OSCIP com site bem detalhado sobre proteção animal e campanhas em todo o território nacional, sediada na Grande São Paulo;
. Beco dos Gatos: tudo sobre gatos, esse fantástico mas injustiçado animal de estimação;
. Gatos do Rio: mais informações sobre gatos, e adoção responsável dos gatos do Rio de Janeiro.
. Adote Um Gatinho: ONG semelhante a Gatos do Rio, porém sediada em São Paulo, SP.

- Culinária:
. Livro de Receitas: um dos sites com maior quantidade de receitas que já vi, para todos os gostos;
. Guia Vegano: receitas, ecologia e proteção animal - tudo num lugar só!
. Receitas Vegan: boas receitas para quem não pretende consumir proteína animal;
. Receita Passo a Passo: blog do Beto, um chef tão caprichoso nos seus posts que é impossível vc errar seguindo as suas receitas, simples mas super saborosas;
. Cantinho Vegetariano: blog da Elaine, onde se encontram excelentes e maravilhosas alternativas culinárias para quem precisa ou deseja deixar de comer carne e derivados.

- Laser, Entretenimento, Conhecimentos Gerais:
. AMG: o mais completo banco de dados sobre música (praticamente todos os estilos internacionalmente conhecidos) - em inglês;
. IMDB: tudo sobre o mundo de cinema - em inglês;
. Observatório: blog de astronomia, com belas fotos do mapa celeste;
. National Geographic: dispensa apresentação; este é original - em inglês;
. SuperInteressante: versão online da revista do mesmo nome;
. É Triste Viver de Humor: blog do Marcelo de Andrade, com charges de humor;
. Terceira Via Verdão: site mantido por torcedores do Palmeiras; eu não sou palmeirense, mas há excelentes artigos sobre o mundo do futebol;
. Futebol & Negócio: blog de vários colaboradores, focando o futebol como indústria do entretenimento.